Redação e Linguagens
Prof. Dawton Valentim
Como começar um texto dissertativo-argumentativo?
-
Leia a frase temática da proposta de redação;
-
Leia e analise os textos de apoio/motivadores (qual é a ideia principal desse texto? Que contribuição ele traz para o recorte do tema?)
-
Volte à frase temática e grife as palavras-chave, aquelas que são essenciais para resumir o tema proposto;
-
Enumere sinônimos para as palavras-chave da frase temática, a fim de evitar sua repetição, já que essas serão as palavras que mais estarão presentes em sua redação;
-
Enumere possíveis teses/problemas para o tema proposto (o que penso sobre isso? O que posso dizer/defender dentro desse tema?);
-
Enumere repertórios socioculturais para o máximo de teses que você elencou (citações, dados, filmes, séries, músicas, livros, novelas etc.);
-
Escolha duas teses e um repertório para cada uma, atentando-se para a melhor sequência que elas podem ter no texto, de modo a apresentar progressão, sequência;
-
Construa a introdução do seu texto e siga a estrutura recomendada.
Estrutura recomendada
Não existe apenas uma forma de escrever um texto dissertativo-argumentativo e é por isso que a "estrutura", aqui, é recomendada, não remetendo a uma fórmula fixa e obrigatória. A leitura atenta de redações que já foram pontuadas com a nota máxima no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) mostra que, embora não exista fórmula mágica, existe, sim, uma recorrência na ordem de informações e estratégias textuais.
Na "lousa" abaixo, você pode ver o mapa mental que descreve essa ordem recomendada e, na redação mais abaixo, você pode ver como essas informações aparecem no próprio texto.
"Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil", por Marina Rocha
De acordo com o artigo 3 da Constituição de 1988, um dos objetivos da República Federativa do Brasil é o combate à desigualdade social. Contudo, percebe-se que a concretização dessa meta ainda é um ideal distante, visto que aproximadamente 3 milhões de brasileiros não possuem registro civil, fato que os impede de votar, estudar, trabalhar e de se inserir em qualquer prática cidadã. Escancara-se, desse modo, a desigualdade: enquanto a parcela que possui documentação adequada acessa seus direitos básicos, aqueles que não são registrados são invisíveis perante a nação. Diante disso, a insuficiência de ações governamentais e de debates sobre o tema podem explicar esse cenário.
A princípio, destaca-se a dimensão política dessa discussão. Segundo o filósofo francês, Rosseau, as leis existem para encaminhar a justiça ao seu objetivo. No entanto, essa premissa se distancia da prática brasileira, pois a lei de 1997, que determinou a gratuidade do registro de nascimento, não conseguiu concretizar o justo acesso à documentação. Isso ocorre pois não se trata essencialmente de uma questão financeira, mas sim de um entrave político: não basta que a retirada do documento não seja paga, é preciso que seja oferecida de forma acessível. Nesse sentido, diante da ausência de medidas que criem ações populares para levar essa oportunidade à parcela invisível da população, o cenário tende a permanecer o mesmo. Como resultado disso, afastamo-nos do ideal de justiça proposto por Rosseau, uma vez que as leis existentes são ineficazes para garantir o combate à subcidadania.
Além disso, nota-se que há fatores culturais que corroboram esse contexto. Embora proposta pela Carta Magna de 1988, em seu artigo 3, a “construção de uma sociedade livre, justa e solidária” é afastada pela passividade diante da falta de democratização da documentação civil. De um lado, há aqueles diretamente atingidos por esse drama e que, sem acesso a informações sobre como e onde retirar seus documentos, mantêm-se alheios à discussão e à sua resolução, dando continuidade, inclusive, ao que é, muitas vezes, uma prática comum em suas famílias há gerações. De outro, as pessoas devidamente registradas, de modo geral, sequer percebem a existência do problema, pois são poucos os debates sobre a legião de brasileiros invisíveis, aos quais qualquer tipo de direito é negado. Com isso, liberdade, justiça e solidariedade são metas cada vez mais distantes.
Torna-se evidente, portanto, que a situação é grave e deve ser alterada. Para isso, é urgente que o Estado (1) – haja vista sua função principal de visar ao bem coletivo (2) – priorize a emissão do registro civil daqueles que ainda não o possuem (3). Isso pode ocorrer por meio de ações comunitárias que aconteceriam em espaços (4), como praças e colégios (2), em parceria com prefeituras, a fim de tornar acessível a retirada da documentação e, com isso, o exercício da cidadania (5). Ademais, a mídia (1) deve estimular o debate consciente sobre o tema (3), para sensibilizar e informar a população (5). Somente assim, a invisibilidade de diversos brasileiros deixará de ser uma realidade e o combate à desigualdade finalmente será adequado, concretizando o ideal da Constituição nacional.
Contextualização do tema, por meio de repertório de abertura e palavras-chave da frase temática, sublinhadas
Indicação da tese que será defendida ao longo do texto: a insuficiência de ações governamentais e de debates sobre o tema.
Conectivo interparágrafo de início
Tópico frasal: observe como essa frase retoma a parte da tese que será desenvolvida, resumindo a ideia central do parágrafo
Repertório sociocultural
Aqui, note que a autora faz um comentário crítico a partir do repertório usado, associando-o à tese do parágrafo, interpretando-o..
Repertório sociocultural
Conectivo interparágrafo de
acréscimo
Repertório sociocultural
Aqui, note que a autora faz um comentário crítico a partir do repertório usado, associando-o à tese do parágrafo, interpretando-o..
Conectivo interparágrafo de início
Elaboração da proposta de intervenção com indicação de agente (1), detalhamento (2), ação (3), modo/meio (4) e efeito/finalidade (5). Observe que a autora indica duas ações, já que pensou em dois problemas (insuficiência de ações governamentais e de debates), mas só uma precisa ser completa, com os 5 elementos.
Apesar de brevemente, aqui a autora faz uma retomada da tese, com "a situação é grave" e anuncia a intervenção: "e deve ser alterada".