A população está divida em grupos sociais numericamente desiguais e com acesso também desigual a oportunidades de emprego, formação educacional, assistência médica, saneamento básico, segurança pública e nutrição.
Os mais ricos não acreditam no compartilhamento de privilégios e usam o Estado como máquina de manutenção da desigualdade. O acesso a esses privilégios é definido por um árduo processo seletivo que ocorre na juventude, para o qual a maioria das pessoas é treinada durante toda a vida.
Essa é a premissa de 3% (2016-2020), série do serviço de streaming Netflix que retrata um futuro distópico e pós-apocalíptico. A narrativa retrata o Brasil de um futuro distópico resultado de catástrofes climáticas e econômicas. A população é dividida em dois grupos desiguais e separados, a princípio, geograficamente: o Continente, um lugar miserável e atrasado que abriga a maior parte dos sobreviventes, e o Maralto, uma ilha superdesenvolvida e para qual apenas 3% da população vão, depois de aprovados em uma árdua seleção chamada Processo, realizada aos 20 anos de idade.
Antes de ser sucesso da Netflix, 3% foi uma websérie veiculada no Youtube e dirigida Jotagá Crema, Pedro Aguilera, Daina Giannecchini e Dani Libardi, estudantes da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Lançada em 2011, a websérie foi inspirada nos livros “1984”, de George Orwell, e “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, que Pedro Aguilera leu em meados de 2009.
Como leitura complementar, sugiro uma matéria do Jornal da USP (clique aqui para ler) que trata da origem da série, antes dela chegar à Netflix. De quebra, ainda é possível ver os três episódios da websérie (abaixo) que repercutiu em todas as redes, em 2011, até chegar na plataforma de streaming.
Qual é o tema?
A série 3% constitui um repertório sociocultural que pode atravessar diversos eixos temáticos ou macrotemas recorrentes no Enem. Pensando em recortes mais específicos, podemos destacar:
Meritocracia em discussão no Brasil;
A persistência da desigualdade na sociedade brasileira;
Os efeitos da má distribuição de renda na população brasileira;
Caminhos para universalizar o acesso à educação no Brasil.
Parágrafo exemplar
Tema: Caminhos para universalizar o acesso à educação no Brasil.
Nesse contexto de análise sociológica, é preciso discutir as deficiências do acesso universal à educação no país em que ainda impera a lógica desigual do vestibular. Tal método seletivo, enquanto ponto de chegada de uma corrida repleta de desproporcionalidades, é metaforizado na série 3%, da plataforma Netflix. Nessa narrativa distópica, todos os cidadãos que completam 20 anos de vida podem participar do Processo, um conjunto de provas complexas que definem a minoria que terá acesso a uma vida digna. Analogamente, a não ficção em que vivemos encurrala os jovens que não tiveram certos privilégios no ponto de partida dessa corrida, como uma educação básica de boa qualidade ou assistência social eficiente.
コメント